Provavelmente, caro leitor ou leitora, você já tenha lido na Bíblia, ou
apenas ouvido falar, o episódio da torre de Babel.
Nele, os filhos de Adão tinham como objetivo construir uma cidade com
uma torre tão alta que atingisse o céu,com a finalidade de impor uma
única política e uma única religião, acabando com qualquer
multiplicidade destes aspectos.
Mas o Senhor não concordou com isso e, como castigo, confundiu de tal
maneira sua língua que eles passaram a não mais se entender, dando fim
àquele projeto e valorizando a diversidade que se iniciava.
Por isso somos iguais apenas perante a Deus. E também perante à Justiça,
como afirma a Constituição brasileira.
Como seres humanos, acreditar que somos todos iguais, é incorrer em um
grande erro. A começar pela nossa impressão digital, que possuímos desde
o nosso nascimento e pelo fato de não existir duas impressões digitais
iguais.
À medida que crescemos e nos desenvolvemos, nossos pais, professores,
educadores, exercem sua influência na formação de nossos princípios,
crenças e valores, o que também contribui para que cada ser passe a ser
único. A este fatores também podem ser citados experiências de vida,
relacionamentos afetivos, grau de formação escolar, etc.
Entretanto, o que é importante para nossa vida e nosso conhecimento é
saber entender, respeitar e aprender com as diferenças, pois cada um tem
sua maneira de "ver" o mundo, sua personalidade, sua crença religiosa,
sua raça, sua cultura e sua condição social.
Quando uma pessoa respeita estas diferenças, ela aprende a respeitar a
si própria e aprende a conviver melhor com as pessoas que a cercam
(familiares, clientes, colegas de trabalho, etc.).
Este novo olhar sobre as pessoas tem feito com que os responsáveis ou
especialistas no desenvolvimento de pessoas usem esta diversidade para
extrair de cada uma delas seus potenciais, habilidades e conhecimentos
que não eram, até então, percebidos por diversas razões, como a
discriminação e o preconceito.
Equipes verdadeiramente vencedoras têm se formado e se desenvolvido por
meio da atuação de líderes e gestores que já se deram conta de como a
diversidade pode trabalhar a favor, e não contra, de novos projetos e
novos desafios.
Entretanto, a Ciência vem estudando e desenvolvendo um novo ramo que
demonstra, fisiologicamente, mais uma diferença existente entre os seres
humanos a cronobiologia.
A cronobiologia estuda os ritmos biológicos. Estes ritmos acontecem em
ciclos de, aproximadamente 24 horas; por isso, são denominados ciclos
circadianos (do latim circa = por volta de e diem = dia). Seu estudo
facilita o entendimento do porquê cada ser humano possui alguns hábitos
que se repetem em determinados períodos do dia.
Variações do ritmo cardíaco, da temperatura corporal (oral, axilar,
timpânica, arterial) e a liberação de hormônios são exemplos destes
ciclos, cuja regulação depende dos núcleos supraquiasmáticos existentes
na região anterior do hipotálamo dos mamíferos.
Estas variações dependem da ação de alguns agentes reguladores como, por
exemplo, a luz, que determina o ciclo vigíliasono.
O avanço do estudo da cronobiologia já é efetuado em diversas áreas,
tais como
? fisiologia, onde são estudados os mecanismos biológicos que são
influenciados pela luz;
? psicologia, onde se estuda a importância dos ritmos biológicos
relacionados à aprendizagem e à memória (funções cognitivas);
? medicina, onde são estudados o diagnóstico e o tratamento das doenças
relacionadas aos ritmos biológicos e,
? saúde pública, onde se estuda a identificação da influência ou das
conseqüências do trabalho noturno, ou de turnos alternantes, no
organismo humano.
O avanço do estudo da cronobiologia já deu origem a dois outros ramos de
estudo a cronopatologia, que estuda o efeito do ciclo circadiano na
saúde e suas relações com as doenças (ex. doenças cardiovasculares tem
predominância no período da manhã, nos fins de semana e no inverno), e a
cronofarmacologia, que estuda a eficácia e a toxicidade de medicamentos
dentro da variação do ciclo circadiano (ex.; por que determinado
medicamento tem melhor ação quando administrado à noite).
Cronobiologia e atividade laboral
Um fato que deve ser salientado é que o ser humano tem hora para tudo
acordar (entre 700 hs. e 800 hs.), ter prazer (entre 900 hs. e 1000
hs.), ter idéias e bucar reflexões e insights (entre 1000 hs. e 1200
hs.), descanso (entre 1300 hs. e 1400 hs.), movimento (entre 1500 hs. e
1600 hs.) sono (a partir das 2000 hs) e regeneração ( entre 2100 hs. e
100 h. da manhã).
É claro que estes dados são valores médios, não se aplicando à
totalidade das pessoas, visto que cada uma possui seu próprio ciclo.
Mas, partindo-se deste ponto, pode-se melhorar a produtividade da
atividade laboral dentro das corporações como, por exemplo
? reuniões
Reuniões após o almoço devem ser evitadas. Isto porque toda a energia
estará concentrada na digestão dos alimentos, o que leva à uma
diminuição do ritmo intelectual.
Algumas corporações, direta ou indiretamente cientes deste fato, possuem
ambientes próprios para que seus colaboradores façam um pequeno descanso
ou, até mesmo, uma sesta ou uma soneca. Esta pausa para um cochilo é
denominada power nap (soneca energizante) e seu objetivo não é a soneca
propriamente dita, mas a melhoria da performance dos colaboradores.
? atividade e desempenho intelectual
A maior atividade intelectual aumenta a partir das 1130 hs. e atinge seu
ápice entre 1500 hs. e 1700 hs. Por isso o período da tarde deve ser o
preferido para a redação de projetos, realização de vendas, etc.
? inversão do horário de trabalho
Uma inversão do horário de trabalho modifica os ciclos biológicos,
trazendo conseqüências ruins para o colaborador no que diz respeito aos
seus costumes e relações familiares.
Já foi relatado que colaboradores que trabalham em turnos alternantes
possuem maior risco para o aparecimento de doenças cardíacas.
Em outro estudo, foi provado que tais colaboradores apresentam aumento
da sonolência, o que diminui sua produtividade e aumenta o risco de
ocorrência de vários acidentes de trabalho.
Em turnos alternantes, as mulheres, mais que os homens, apresentam um
número maior de distúrbios do sono, principalmente quando a mudança de
turno ocorre no período da manhã. Como conseqüência, ou não, foi
verificada uma maior incidência de distúrbios psiconeuróticos,
digestivos e circulatórios.
Portanto, o sistema de turnos alternantes, quando posto em prática, deve
ser muito bem planejado e seguir recomendações bem específicas.
Aos poucos percebe-se que a cronobiologia começa a estar presente no
ambiente de trabalho. Gestores e líderes já atentam para o fto que cada
colaborador possui seu próprio ritmo, o que deve ser entendido e respeitado.
Este fato pode acarretar uma mudança de hábitos corporativos como o
horário de entrada e saída dos colaboradores. Por exemplo se um
colaborador possui um melhor desempenho a partir das 1000 hs. da manhã,
por que obriga-lo a chegar às 800 hs Ele poderia, perfeitamente, cumprir
sua jornada de uma forma mais flexível, entrando às 930 hs. e saindo às
1930 hs., por exemplo.
O conhecimento de como a cronobiologia influencia os aspectos físico e
mental de qualquer ser humano faz com que haja uma melhoria substancial
de sua qualidade de vida, desde que seus horários e limites sejam
considerados e respeitados.
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