Jornalistas e jornaleiros, jornalismo e propaganda
Fábio Pannunzio
Quem mora em Mato Grosso só fica sabendo dos rolos da política em seu próprio Estado quando eventualmente algum grande jornal nacional resolve estreitar o foco sobre os problemas locais. Que, diga-se, não são poucos.
Os periódicos locais, num obsequioso exercício de subserviência, jamais noticiam nada que possa expor as vísceras da baixa política que ali se pratica.
É lá que atua o maior ficha-suja do País, o multiprocessado deputado estadual José Geraldo Riva (PSD). Contra ele há mais de 180 ações civis, penais, e de improbidade administrativa.
Riva responde por peculato, corrupção e acaba de ser afastado da presidência da Assembleia Legislativa pelo Tribunal de Justiça. Foi o artífice do chamado “Escândalo das Calcinhas”.
Está incurso na Lei da Ficha Limpa e não pode mais concorrer a nenhum cargo eletivo. Antes, teve dois mandatos cassado pela Justiça Eleitoral por compra de votos.
Desinformado, o eleitor mato-grossense continua cedendo votos para essa elite delinquente. Pleito após pleito, gente como Riva vai aumentando seu cacife eleitoral – a despeito do aumento vertiginoso de seu passivo judicial.
Contra eles resta apenas a combatividade de blogueiros como Adriana Vandoni, doProsa e Política, que segue denunciando as falcatruas.
A estes, a máquina de delinquir da política cuiabana responde com dezenas de processos que têm por objetivo intimidar, censurar e silenciar.
Para quem busca explicações para o acumpliciamento dos jornais, o Diário Oficial começa a oferecer respostas.
Nos últimos dias, no apagar das luzes da gestão Riva, foram publicados vários extratos de contratos para a aquisição de assinaturas de periódicos pelo parlamento local. Todas elas superfaturadas.
O objeto de um desses contratos era a aquisição, por R$ 33 mil, de 60 assinaturas anuais de um tal Diário de Alta Floresta ao custo unitário de R$ 660,00.
No varejo, a Diário Editora e Radiodifusão, empresa cujo capital social é de apenas R$ 40 mil, oferece o mesmo pacote por apenas R$ 290,00. O superfaturamento chega a espantosos 127%.
O jornal A Tribuna, de Rondonópolis, cobrou da Assembleia R$ 680,00 por um pacote anual oferecido ao púbico por R$ 375,00 (81% de sobrepreço). E o misterioso Correio Varzeagrandense conseguiu emplacar um contrato semelhante por R$ 500,00.
Digo misterioso porque nem os funcionários do suposto departamento comercial sabem informar qual é a periodicidade da publicação.
Os rolos, no entanto, não se restringem aos hebdomadários dos grotões. Os dois maiores jornais cuiabanos surfam na mesma onda.
O jornal A Gazeta, por exemplo, emplacou a venda de 71 assinaturas anuais pelo valor unitário de R$ 700,00, num negócio que totalizou R$ 49,7 mil reais.
Sabe quanto paga o assinante pessoa física ou jurídica pelo mesmo serviço ? No máximo R$ 450,00. Percentual de superfaturamento: 55%.
Seu concorrente mais forte, o Diário de Cuiabá, conseguiu um sobrepreço mais modesto na venda de um pacote de assinaturas anuais para o parlamento, de “apenas” 44%.
Vendeu à Assembleia 71 assinaturas, igualmente com dispensa de licitação, por R$ 650,00 cada. Assinantes sem mandato nem colarinho branco pagam pelo mesmo serviço um preço bem menor, R$ 450,00/ano. O sobrepreço é de 44%.
Mais do que uma teia de relações espúrias, o levantamento feito por Adriana Vandoni desmascara a promiscuidade que explica e justifica o silêncio dos jornais sobre os malfeitos dos políticos mato-grossense que, desses pastiches jornalísticos, só merecem elogios.
Ao leitor, diante do quadro de acumpliciamento geral dessa imprensa oportunista e servil, resta apenas conformar-se com essa espécie de estelionato que transforma jornalistas em jornaleiros, vendedores de material impresso, locadores de penas, e jornais em meros veículos propagandísticos.
E o que é pior: ainda ter que pagar isso.
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