Esperei muitos anos para realizar este sonho. Quando Issac chegou, um raio de luz acendeu em nossa casa. Eu e Sara, já não tínhamos tantas coisas para fazer. Coordenávamos os criados e cuidávamos das tendas, muitas pessoas dependiam de nós. Olhávamos para as crianças dos nossos irmãos israelitas: correndo, brincando, abraçando seus pais. Pareciam tão felizes. Agora, temos o nosso filho, um herdeiro prometido por Deus, uma promessa que significa eternidade.
Sara ficou mais bonita com a gravidez, passou a se sentir mais segura, amada, andar de cabeça erguida, mesmo sob os olhares de pasmo, os risos de deboche os murmurinhos. Sabíamos que a chegada de Isaac era um testemunho do poder de Deus de quanto Ele nos amava e zelava por nós. Muitos já me viam como um escolhido, abençoado, Isaac era a prova de que não existia impossibilidades para o meu Deus. Sim, homens e mulheres, vieram nos ver e perguntar sobre o Deus que servíamos.
Isaac era agora a maior maravilha que tínhamos. O bem mais excelente. Ele era a minha herança. Andávamos juntos nos campos, ríamos, conversávamos. Isaac era o centro de minha vida. Sara não tinha ciúmes da nossa relação, ela até gostava. Sabia que eu estava feliz. Tão logo Isaac começou a entender as coisas, lhe falei sobre Deus. Contei-lhe sobre as estrelas. Repeti o que Deus tinha me falado: "Filho, podes contar as estrelas? Assim será tua descendência". Fiz planos para Isaac. Nos entendíamos muito bem.
Algumas vezes cheguei a pensar que o lindo menino estava tomando o lugar de Deus, porque se antes ao acordar eu olhava para o céu em oração de gratidão, agora, eu olhava para Isaac, passava horas vendo-o dormir, apreciando sua beleza. Quando ele acordava, sentávamos juntos á mesa e por todo o dia Isaac era a minha diversão. Eu o amava com todas as minhas forças. Apesar da sensação de estar abandonando Deus, prossegui em minha adoração a criação e ignorei ao Criador. Afinal, bem ali estava o Seu presente para mim.
A cada dia que passava me sentia mais perto de Isaac e mais distante de Deus. Eu estava feliz e isto era o que importava. Deus entenderia minha distância. Ele sempre entendeu tudo. Mas certo dia, no meio da noite, ouvi a voz do Senhor. Fazia muito tempo que aquilo não acontecia. Ele veio como no principio de minha caminhada. Pediu-me algo que parecia impossível: "Sacrifica teu filho". Doeu muito, não consegui mais dormir. Acordei os criados e parti a Moriá. Os pensamentos eram de pesar. A situação estava remoendo minha alma.
Mas, era um momento de decisão: Deus estava a me provar, requerer de mim o bem mais precioso. Precisei escolher viver para Deus e morrer para o mundo. Por quase 80 km refleti sobre aquele pedido. Em silêncio, revivi em minha memória, cada Palavra de Deus para mim. Eu precisava daquilo porque percebi que as promessas estavam morrendo, que eu já não era servo do Altíssimo, mas pai de Isaac. Talvez, eu até nem estivesse sendo, marido da Sara. Era hora de mudar. Deus entreviu na hora certa. As lágrimas escorriam em meu rosto, procurei disfarçar.
Na caminhada para o Vale da morte, encontrei vida e renovei os votos com o Senhor. Tive mais uma vez a certeza de que Ele não me abandonaria. "Em Isaac será chamada a tua descendência" ecoava em meu ser Gn 13:15, 16 e Hb 11:17: 18. Subi o Moriá. E enquanto Isaac nada entendia, meu coração se convertia. Minha vontade morria. A distância entre mim e Deus diminuía. Quando meu filho já no cume me pergunta: "Pai, onde está o cordeiro para o holocausto"? Gn 22:7. Respondo "Deus proverá". Não era a vida de Isaac que estava no altar. Era a minha vida. Eu precisava compreender que não era o senhor do tempo, nem mestre de mim mesmo. Deus era o meu Senhor e deveria ocupar o centro de minha vida.
Alguma vez Deus já te pediu algo que pareceu impossível? Alguma vez, a vontade de sua carne te promoveu satisfação e alegria, mas você se sentiu distante de Deus? Existe algo que está sendo colocado como centro de sua vida, tomando o lugar de Deus? Lembre-se, o caminho da salvação exige renúncia. Porta bem estreita. Não é só de flores, mas de espinhos. O que você precisa levar ao Moriá? Não pense duas vezes, pegue a lenha e siga o caminho, acreditando que Deus proverá. Pode ser que doa muito, mas a recompensa virá.
Sacrifícios de Renúncia:
Ana: A esposa de Elcana era uma mulher triste porque não conseguia ter filhos. O esposo tinha uma concubina chamada Peninha, e a Bíblia diz: "Peninha tinha filhos, porém Ana não tinha" (I Sm 1:2). Em profundo clamor, Ana cheia de fé pede a Deus um filho. Ele concede, nasce o menino Samuel. Imaginem quanto essa criança representava para Ana: Dignidade, milagre, resgate, nova vida. Samuel era o prêmio que Ana precisava para esmagar as ofensas da rival, para calar as línguas impiedosas. E o que faz a mãe de Samuel? Samuel ainda bebê é entregue no templo para o sacerdote Eli, para naquele lugar cumprir o ministério de servir ao Senhor como cumprimento do voto de sua mãe. "Por isso também ao Senhor o entreguei, por todos os dias que viver, pois ao Senhor foi pedido. E adorou ali ao Senhor" (I Sm 1:28). Quanto custou para Ana a separação de Samuel, a primícias de sua felicidade?
Moisés: "Pela fé Moisés já grande recusou ser chamado filho da filha de faraó" Hb 11: 24. Moisés deixa o palácio real com todas as suas benesses para viver como peregrino, porque tinha um chamado. O de ser líder do seu povo. Ele renunciou o luxo e a herança , em vista de algo maior: servir a Deus em favor de sua pátria. A renúncia custou anos da vida de Moisés, tempo em que foi moldado pelo Senhor, moído, a fim de se tornar capaz de exercer o ministério. Aquele que era assassino, enfim torna-se manso e disposto a obedecer: "E era o homem Moisés mais manso do que todos os homens da terra" Nm 12:3
Quando me converti ao Senhor, ouvi firmemente em meu coração: "Deixa tudo que estas fazendo, porque tenho algo novo para ti". Abandonei a carreira de jornalista e as propostas para trabalhar em grandes emissoras de Teresina, comecei o ministério de ensinar e pregar a Palavra. Troquei o curso de Ciências Contábeis na Universidade Federal, pelo de Teologia. Estava no último ano e recomecei. Mais cinco anos na Universidade. Renunciei os meus planos, para seguir os que Deus tinha reservado para mim. Pela fé e certeza de que Ele me seria fiel, e está sendo. Sei que o será até o fim de meus dias.
Seguir a Jesus exige renúncia. Do começo ao fim da caminhada. Sei que esta não é uma boa mensagem para se ouvir, mas é a mensagem do Reino e é agradável de seguir. Porque Deus não abandona os que renunciam ao mundo, na certeza das coisas que hão de vir. O apóstolo Paulo, falando em renúncia diz: "Mas o que para mim era ganho, reputei-o perda por Cristo. E na verdade, tenho por perda todas as coisas pela excelência do conhecimento, de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo que sofri a perda de todas essas coisas, e as considero como escória para que possa ganhar a Cristo" Fp 3:7, 8.
Não quero dizer que você tenha que sair por aí renunciando a tudo que lhe traz felicidade. Não é isto. Deus tem planos diferentes para cada um de nós, também fala de maneiras diferentes. Mas quando fala... É impossível não saber que é Ele. Suas palavras mexem com todos os sentidos humanos, tudo conspira para a realização de Sua vontade. Desobedecer é sentir os grilhões apertando, doendo, a consciência esmagando. Como ignorar Seu poder?
Alcançar o Reino é conquistar a paz, mas o preço dessa paz está na renúncia, na consciência de filho que ama o Pai e preza por agradá-Lo: "Então disse Jesus a seus discipulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a minha cruz e siga-me" Mt 16:24. É preciso ficar em silêncio para ouvir Deus. Ele falou com Abraão no meio da noite, uma hora em que tudo estava em repouso. Conhecemos a vontade de Deus para nós, quando subimos o Moriá, com coração quebrantado, lágrimas nos olhos. Quando nos entregamos por inteiro, sem reserva. No Moriá, colocamos nossas vontades em sacrifício. E Deus suavemente faz bradar os anjos, concedendo a nós "a sobrevivência de Isaac". Ele não nos entristece, mas transforma os nossos cacos em vasos de ouro.
Deus te abençoe.
Wilma Rejane
http://www.atendanarocha.com/2010/10/o-preco-da-renuncia.html
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